
As vinculações desconhecidas
Qual o impacto dos relacionamentos anteriores na sua relação atual?
Quais são as marcas, choques emocionais, traumas, que traz dos relacionamentos anteriores para o seu relacionamento atual?
Qual é o padrão que se repete nos seus relacionamentos?
Quantos relacionamentos teve que acabaram todos da mesma forma?
Em que medida é influenciado/a pela sua família de origem na forma como vê e se comporta nos relacionamentos?
Todos os seres humanos são feitos de histórias, memórias e acontecimentos de vida e é com base em todo este percurso e nas perceções apreendidas que são construídos os relacionamentos inter e intrapessoais. Na maior parte das vezes nos relacionamentos anteriores estão assuntos inacabados, traumas, choques emocionais que a qualquer momento podem despoletar gatilhos emocionais que geram disfuncionalidade e sofrimento.
Além dos relacionamentos anteriores, temos os da família de origem que tem um papel fundamental, uma vez que são as dinâmicas da família de origem que o adulto leva para os relacionamentos no futuro. Todos os seres humanos têm modelos, nomeadamente o modelo de casal, sendo o primeiro grande modelo o relacionamento que os pais tiveram.
Qual é a dinâmica de relacionamento dos seus pais?
Quer repetir o modelo dos seus pais? ou quer evitar?
Como vai fazer diferente?
Como consequência desta carga emocional muitas vezes não resolvida no indivíduo, alguns relacionamentos podem à partida estar condenados, sem se ter consciência disso. Em função destas dinâmicas disfuncionais existe também um fator diretamente relacionado com o facto de o relacionamento ser saudável ou doentio que é o caso de muitas vezes adultos em idade cronológica, viveram ainda com dinâmicas infantis.
Estas dinâmicas infantis podem surgir devido a dificuldades de desenvolvimento na infância no que respeita a traumas e a dinâmicas disfuncionais que foram já construídas a partir daí através da aprendizagem com o contexto no qual cada um estava inserido.
Com efeito, estas dinâmicas doentes, podem apresentar-se de várias formas:
Relacionamento parental – onde existe um adulto com uma dinâmica infantil e um adulto que cuida da criança, nomeadamente: “eu cuido de ti, eu gosto tanto de ti, só te quero ver bem”; ou “um dá ordens e o outro obedece”. Reconhece?
Relacionamento entre duas crianças – Dois adultos que ainda esperam que o outro lhes dê o que eles não conseguem dar a si mesmo: “cuida de mim! não cuida tu de mim”; “eu preciso que me dês atenção! mas eu preciso mais”. Já deve ter observado esta dinâmica?
Quando um quer sempre o outro por perto que lhe dê segurança, que lhe dê tudo que precisa para se sentir seguro e amado. Quem quer essa relação? A criança ou adulto? A criança irá procurar no outro o que não teve dos pais. O relacionamento adulto não é para substituir o pai e a mãe, não é para preencher a carência infantil.
A dinâmica saudável são dois adultos no relacionamento, uma vez que para existir um amor adulto as dinâmicas devem ser adultas. O objetivo enquanto adultos é construir um modelo de relacionamento saudável.
A base de um relacionamento amoroso é amar alguém diferente de si próprio, é aprender a conviver com a diferença, a ajustar-se e a crescer nela, enquanto adultos. A relação precisa que os dois estejam presentes e que unidos permitam que o outro cresça na sua individualidade e seja cada dia melhor.
O relacionamento saudável de casal é “o todo”, onde existem duas partes diferentes que se complementam, ou seja, o todo é a força da união dos dois.
Estas dinâmicas ocultas traduzem-se em vinculações desconhecidas que geram apegos inconscientes, que levam a amarras psíquicas e emocionais, condicionalismos que impedem que exista um relacionamento saudável entre dois adultos.
“Numa relação saudável cada um cuida de si e os dois cuidam e nutrem o relacionamento. São dois adultos que decidem caminhar e aprender juntos lado a lado. Assim, o amor pode dar certo.” Bert Hellinger
Dra. Filipa Moura