
Cada vez mais se fala de empatia.
A empatia refere-se à nossa capacidade de nos colocarmos no lugar do outro, tentando ver o mundo, as pessoas, as situações e os acontecimentos da sua perspetiva, quer ao nível cognitivo, afetivo e emocional. Tal como se costuma dizer na gíria: trocar de sapatos com o outro.
É inegável que a empatia possibilita uma maior e melhor compreensão do mundo e das pessoas. Permite-nos compreender o outro, e que o outro nos compreenda, o que facilita de forma significativa as relações humanas no contexto interpessoal. Para além disso, permite-nos moldar e adaptar o nosso comportamento, tendo por base as consequências positivas e negativas que daí poderão surgir. Por exemplo, se eu conseguir perceber que o meu comportamento pode magoar a outra pessoa (porque me magoaria a mim, caso fosse no sentido inverso e eu estivesse no lugar do outro) eu vou adaptar o meu comportamento.
No entanto, a empatia pode ter limites. Ou seja, por muito grande que seja o nosso empenho em tentar ver com os olhos do outro, nunca nos conseguimos distanciar o suficiente da nossa visão, da nossa própria interpretação, e ser completamente imparciais e desligados da nossa própria existência. Tal pode acontecer uma vez que a nossa perceção das pessoas, do mundo, dos acontecimentos, está dependente do nosso próprio contexto, das nossas experiências passadas, da nossa história. Para além disso, mesmo que vivenciássemos a mesma experiência que outra pessoa, a nossa interpretação poderia ser diferente, precisamente por ser nossa.
Ou seja, conseguirá o processo empático ser sempre totalmente eficaz? Para ilustrar esta questão, vou dar um exemplo metafórico: numa determinada situação em que me proponho ser empático, conseguirei trocar de sapatos com o outro, sendo que eu calço o 37 e a outra pessoa o 42? E o processo inverso? Sentir-me-ei confortável? Conseguirei, de facto, imergir na experiência do outro, vendo o mundo com os seus olhos?
Estes limites não devem desmotivar ou relativizar a importância da empatia, mas sim alertar para as próprias condicionantes do processo, uma vez que estas dificuldades podem ser, elas próprias, geradoras de angústia e ansiedade quando sentimos que não nos estamos a conseguir colocar no lugar do outro, utilizando os seus sapatos.