
A nossa sociedade está em constante transformação, por isso as dinâmicas familiares e as práticas parentais podem ser muito diferentes daquilo que se via há 20 ou 30 anos atrás. Nos dias de hoje, a Parentalidade Positiva tem ganho cada vez mais espaço e vale a pena conhecer mais sobre esta abordagem.
Educar uma criança é, provavelmente, uma das tarefas mais difíceis que o ser humano poderá enfrentar, o que pode ser mais desafiante do que gerir um grande negócio. É importante reforçar que a dinâmica familiar da criança vai contribuir, em grande parte, para os comportamentos do futuro jovem e adulto, por exemplo, na forma como este resolve problemas, como expressa e lida com as suas emoções e sentimentos e, sobretudo, em como irá lidar com as adversidades da vida. Sendo assim, a educação que é dada aos nossos filhos pode mudar o seu trajeto de vida consideravelmente, em função dos recursos que lhes são dados.
“O objetivo principal da educação é criar pessoas capazes de fazer coisas novas,
e não simplesmente repetir o que as outras gerações fizeram”. Jean Piaget
Afinal, o que é a Parentalidade Positiva?
A Parentalidade Positiva promove nas crianças a alegria, a resiliência e a confiança, levando-as ao mundo sempre com respeito e amor à mistura. As regras e os limites também são cruciais para o desenvolvimento da criança e são transmitidos por meio de uma comunicação mais assertiva.
É importante compreender que ser positivo não é ser perfeito, pelo contrário, é encontrar a aprendizagem no erro. A procura pela perfeição leva qualquer pessoa a um estado de insatisfação constante e a um sofrimento considerável.
Não se trata de uma relação baseada na permissividade, no carinho e atenção em excesso, pois estas atitudes levam a resultados tão negativos quanto o excesso de autoridade. A Parentalidade positiva procura estabelecer o equilíbrio entre uma rigidez extrema e uma facilidade exagerada, promovendo limites, regras, assertividade, amor e uma comunicação bilateral entre os pais e a criança. As regras e os limites dão segurança às crianças no seu desenvolvimento e promovem a sua resiliência se colocadas de forma equilibrada.
Com estas práticas, as crianças irão sentir-se mais compreendidas e acolhidas nas suas emoções mais fortes, nos seus erros, nas suas circunstâncias mais árduas, em vez de serem punidas ou censuradas. Em consequência, as manifestações mais efusivas como birras, ou maus comportamentos serão menos frequentes.
Por exemplo, ao dizer ao seu filho “Estou muito desiludido contigo”, levará a criança a pensar que ela não é o que os pais queriam, incitando assim um sentimento de inadequação e de rejeição. Vale ressalvar ainda que as crianças passam muitos anos à procura de estar à altura das expetativas dos pais. Já imaginou o quanto uma observação como esta pode pesar para o seu filho? É provável que a criança se sinta rejeitada, que pondere que estragou o relacionamento com os pais irreversivelmente. Lembre-se sempre que está a falar para uma criança e o simbolismo das frases tem outra dimensão para elas.
Por outro lado, se lhe disser “Precisamos de conversar sobre o que aconteceu. Para o teu bem, não vou permitir que isto se volte a repetir”, estará a tratar a situação de uma forma positiva, dando a oportunidade ao seu filho para avaliar o erro que cometeu, sem entrar em desespero, fazendo-o perceber que é amado independentemente disto. Com esta frase, é possível fazer a separação entre a criança e o ato em si.
“Quando pensar que está a ensinar, na verdade estará a aprender”. Angélica Olvera
Os pais também acabam por ser trabalhados neste trajeto, pois para implementar de facto a Parentalidade Positiva, muitas vezes é necessário abandonar velhos hábitos. Para que exista uma comunicação efetiva bilateral, é importante que os pais sejam trazidos para o presente, o aqui e agora, o que para alguns pode ser difícil.
A assertividade, os limites e as regras podem ser difíceis de impor para aqueles que têm dificuldades em os estabelece-los até mesmo em outros contextos da sua vida, como no trabalho. Por outro lado, um pai autoritário terá de trabalhar a sua flexibilidade para encontrar o equilíbrio na comunicação. O equilíbrio é a chave para o sucesso da relação entre pais e filhos.
No fundo, a parentalidade é uma jornada de enriquecimento, mudança e adaptação para os pais que muitas vezes descobrem em si pessoas que nem sabiam existir. Então, não é só a criança que está numa fase de crescimento, pelo contrário, todos estão no seu processo de aprendizagem e os filhos vêm também mostrar aos pais que nada é estanque e a evolução é constante.
“A paz começa onde cada um de nós pode ser da forma como é” Bert Hellinger
Por Dra. Filipa Moura, Psicóloga.