As birras são comuns, principalmente em crianças pequenas. De facto, fazem parte do desenvolvimento. Surgem como tentativas de lidar com emoções complexas, como a frustração, e são caracterizadas por comportamentos de choro, gritos, a criança atirar-se para o chão, tentativas de pontapear ou bater em alguém, atirar objetos, entre outros. Podem acontecer em qualquer contexto. No entanto, são mais frequentes em momentos em que a criança sente alguma necessidade, mesmo que não a expresse, como sono, fome, vontade de ir à casa de banho, de descansar, de atenção ou de ser ouvida. Tendem, também, a surgir de forma mais intensa em certas fases do desenvolvimento cognitivo e emocional:
– 2 anos (os conhecidos terrible two) – nesta fase, as crianças ainda não conseguem expressar-se verbalmente sobre como se sentem e do que necessitam, sentindo-se frustrados com frequência;
– 3 anos – por esta altura, as crianças já têm mais autonomia, deslocam-se sozinhos, falam e expressam-se melhor. Mesmo assim, por vezes, sentem dificuldade em demonstrar o que necessitam e confrontam-se com aquilo que querem e não conseguem fazer (por exemplo, subir as escadas, segurar em dois brinquedos simultaneamente, brincar por mais tempo, não dormir)
– 4 anos – nesta fase, a independência e autonomia é ainda mais notória. As crianças sentem-se confrontadas com regras e rotinas que, na visão delas, não fazem sentido. Desta forma, sentem-se frustradas por não puderem fazer e agir como acham que deveria ser (ficar acordados até mais tarde, comer certos alimentos, apertar os cordões das sapatilhas, entre outros)
É muito importante perceber que, durante uma birra, as crianças precisam de se sentir compreendidas e acolhidas.
Apesar de tenderem a diminuir com o avançar da idade (e do desenvolvimento cognitivo e emocional), geralmente por volta dos 5 anos, existem um conjunto de comportamentos a ter em conta que ajudam na gestão e minimização das birras:
– Manter a calma: tendo em conta que as birras são as tentativas de as crianças lidarem com as emoções, estamos a ensinar como elas próprias devem agir. Lembrem-se que as crianças aprendem observando.
– Validar e reconhecer os sentimentos da criança: as birras surgem muito pelo sentimento de incompreensão. Desta forma, os pais demonstram disponibilidade em compreender as suas necessidades, tentando satisfazê-las.
– Proporcionar segurança: as crianças necessitam de se sentir seguras, fisica e emocionalmente. Durante uma birra dê colo e abrace. Não pense que desta forma está a reforçar a birra, bem pelo contrário. Para além disso, jamais digam algo do género “assim a mamã não gosta de ti!”
– Estabelecer rotinas e limites: estabelecer rotinas e limites ajuda as crianças a sentirem estabilidade
– ouvir e oferecer possibilidades: ouça o que a criança diz e tente oferecer possibilidades, dentro das que existem, e que sejam possíveis, como uma espécie de negociação (por exemplo, se a criança não quer ir dormir e prefere continuar a brincar, dê a possibilidade de escolher um brinquedo para levar consigo para a cama)
– Reforçar os bons comportamentos e as tentativas bem-sucedidas de lidar com a frustração
– Criar o “espaço da calma” em casa: criem em casa um canto (literalmente!), coloquem almofadas e objetos tranquilizantes (como espanta-espíritos, objetos com água e brilhantes, música relaxante, entre outros). Sempre que ocorrer uma birra, vá para esse local com a criança e, juntas, observem esses objetos
– Conciliar as estratégias com toda a família: é muito importante que toda a família utilize as mesmas estratégias, nunca desautorizando os pais
Termino com o mais importante: Lembrem-se que as crianças não pensam como os adultos, ainda estão a crescer, a amadurecer o pensamento, a conhecer o mundo e o seu funcionamento. Ser pai/mãe é permitir que cresçam, que testem o pensamento e que aprendam a gerir-se emocionalmente.
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