As crianças e a vinculação

Por Dra. Filipa Moura

 

Todos os seres humanos vêm ao mundo com um sistema comportamental relacionado com a vinculação que os leva a procurar proximidade de outros, que são, neste caso, as figuras de vinculação. A Vinculação é uma relação emocional profunda e duradoura, que liga uma pessoa a outra no tempo e no espaço (Bowbly, 1969).

A Teoria da Vinculação assegura a relevância das relações humanas e os respetivos efeitos no desenvolvimento individual. A investigação demonstra que desde o nascimento as crianças procuram criar um vínculo com a figura de vinculação que é geralmente a mãe ou o pai.

A vinculação, de forma sucinta, pode existir em duas formas mais comuns: segura ou insegura.

Uma criança com uma vinculação segura vai produzir um modelo de um cuidador responsivo e confiável, assim como, terá uma perceção de si como digno de atenção e amor. Por outro lado, uma criança com uma vinculação insegura perceciona o mundo como um lugar arriscado, onde as pessoas devem ser observadas com cuidado, neste caso, estas crianças têm uma perceção de si próprias como não merecedoras de atenção e amor.

Vários são os autores que consideram que crianças com vinculações inseguras têm maior potencial para desenvolver problemas comportamentais como hostilidade, agressividade e comportamentos antissociais no caso da vinculação evitante. É de sublinhar que a vinculação tem impacto na formação da personalidade e no desenvolvimento infantil, sendo que, o estilo de vinculação irá influenciar as futuras relações interpessoais do indivíduo.

Desta forma, o vínculo emocional a um cuidador primário é crucial para o desenvolvimento social e emocional saudável da criança. Em consequência, problemas na criação desta ligação nos primeiros anos de vida, podem trazer potenciais padrões de comportamentos desajustados e dificuldades na regulação emocional da criança. As características da vinculação têm vindo a ser de forma consistente relacionadas com os diferentes aspetos de funcionamento da criança, compreendendo a sua sociabilidade, autoestima e competências cognitivas.

Importa deixar claro que as competências emocionais durante os primeiros anos de vida se desenvolvem no contexto da relação de vinculação (Soares, 2009). Da mesma forma, a qualidade da vinculação está relacionada com as diferentes formas que as crianças em idade pré-escolar encontram para expressar as suas emoções e para compreender os estados emocionais dos outros e os seus. (Veríssimo et al., 2003)

O contexto familiar onde a criança está inserida têm uma grande influência no desenvolvimento da sua compreensão e comunicação emocional. Se os pais da criança adotarem um diálogo aberto sobre as suas emoções num contexto relacional positivo irão influenciar a capacidade da criança se expressar emocionalmente. (Denham et al, 2008).

De grosso modo, os vínculos afetivos são um dos fatores que contribuem para o desenvolvimento sócio emocional do individuo, as interpretações que o mesmo faz do mundo e a forma como lida com os problemas interpessoais (Bowlby, 1988).

Para terminar, as dificuldades nas relações de vinculação não são, geralmente, compreendidas como uma psicopatologia ou como fatores que podem causar diretamente a mesma, no entanto, alicerçam o seu possível progresso.

 

Referências

Aguilar, B., Sroufe, A., Egeland, B. & Carlson, E. (2000). Distinguishing the earlyonset/persistent and adolescence-onset antisocial behavior types: From birth to 16 years. Development and Psychopathology, 12, 109-132.

Bowlby, J. (1969, 1982). Attachment and Loss (Vol. I) London: Penguin Book.

Bowlby, J. (1988). A secure base: Clinical applications of attachment theory. London: Routledge.

Denham, S., Bassett, H., Wyatt, T. (2008). The socialization of emotional competence. In J. Grusec & P. Hastings (eds.), Handbook of Socialization: Theory and research (pp. 614-637). New York and London: The Guildford Press.

Duggal, S., Carlson, E. A., Sroufe, L. A., & Egeland, B. (2001). Depressive symptomatology in childhood and adolescence. Development and Psychopathology, 13, 143-164

Silva, N. (2014). Teoria da vinculação. Dissertação de mestrado, Faculdade de Medicina, Porto.

Soares, I. (2009). Relações de vinculação ao longo do desenvolvimento: Teoria e avaliação (2ª ed.). Braga: Psiquilibrios.

Veríssimo, M., Monteiro, L., Vaughn, B., Santos, J. (2003). Qualidade da vinculação e desenvolvimento sócio-cognitivo. Análise Psicológica, 4, 419-430.

 

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